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Tupi Nambha: Invasão Alienígena

  • Foto do escritor: Roadrock Blog
    Roadrock Blog
  • 8 de abr. de 2019
  • 5 min de leitura


Pequeno no tamanho, porém grande no que se propõe…


Assim que tive a primeira impressão dessa obra singular da banda Tupi Nambha (Invasão Alienígena, primeiro EP dos caras) percebi que se trata de algo muito sério. Um ousado pontapé inicial numa possível grande carreira que se inicia. Desde a arte da capa, a produção impecável do CD e a proposta da banda (já colocando como os nativos se sentiram ao serem invadidos pelos portugueses até o próprio idioma Tupi Antigo), a obra se apresenta como algo único.


A produção impecável de Caio Cortonesi aliada à direção artística de João Rafael não economizou em perfeições, desde o livreto muito bem elaborado, contendo as letras das músicas e totalmente ilustrado, até a qualidade quase que internacional das gravações presentes. Nota-se claramente o amor de todos os envolvidos, algo que chega a ser quase sobrenatural. Sim, caros amigos, essa coisa de cantar em Tupi gera uma aura de misticismo que permeia toda a obra, desde a aparência física até o tom das composições, que parecem conversar com o ouvinte, mesmo que não se entenda nada das letras, apenas tendo uma ideia pelos títulos em português.


Parece que o som dos caras fala diretamente com nossas almas, despertando um lado ancestral, nativo, guerreiro. Uma coisa muito louca que nem todos vão conseguir perceber, ou talvez percebam, mas não se toquem do que realmente está acontecendo. Não se trata de uma coisa como quando o Sepultura começou a colocar influências nativas em seu som (lembre-se de Roots e muitas coisas que vieram depois), aqui o buraco é mais embaixo. A banda classifica seu som como Tribal Metal, o que cai como uma luva, pois a impressão que se tem é que os próprios Tupis aprenderam Heavy Metal!


A faixa título, Invasão Alienígena, com o som da tribo logo de cara já despenca numa levada metálica contagiante e pesada. Aqui a gente tem a nítida impressão de que a apreensão se espalha pelos nativos, pois os barcos estão chegando e ninguém faz ideia do que será aquilo. Guitarras bem equilibradas e riffs que lembram Megadeth de fato já agradam logo de cara. A mudança de andamento lembra os momentos áureos do Sepultura dos tempos do Chaos AD, sem prejudicar a identidade da banda.


Antropofagia chega num tom mais escuro para logo despejar riffs pesados no melhor estilo mosh. Sério, dá para sentir nosso corpo sendo jogado do palco na galera durante essa música. Altamente estimulante e feita para ouvir bem alto, coisa para incomodar mesmo o vizinho funkeiro, quase uma vingança dedicada à música medíocre. Aqui os caras despejam fúria cadenciada numa viagem tribal impressionantemente metálica! Essa música é feita para detonar, aliás é redundante afirmar isso, pois o CD inteiro detona.


Tribo em Guerra vem para garantir que seu corpo não vai mesmo parar de se mexer. A coisa te envolve de verdade na guerra, mesmo que você não tenha lido o título. Marcelo Loiola despeja seus vocais cadenciados nessa música que começa como um Slayer no meio da selva para depois cair numa batalha de nervos que justifica seu tema. A banda nos coloca no meio da guerra, armados apenas com paus e pedras. Novamente riffs totalmente thrash nos fazem lutar, lutar e lutar! Muito louco isso! O refrão é um chamado verdadeiro de guerra. Essa música poderia bem ser um manifesto pró-revolução. Verdadeiro clamor pela luta contra a opressão.


Tupi Nambha traz de volta aquele sentimento de quando a gente ouviu Slayer pela primeira vez. Não que seja igual, na verdade não é, mas os riffs que introduzem esta música tem o mesmo feeling daqueles que a gente ouviu no South of Heaven ou até mesmo em muitos trabalhos de respeito do Thrash mundial. Eles introduzem uma música que define a banda. Tudo que se podia imaginar deles, nesta canção se concretiza. Aqui temos toda fúria, toda revolta e todo o grande trabalho dos caras ao mesmo tempo. A guitarra de Rogério Delevedove se firma a esta altura como alma vital para o trabalho da banda, com riffs ainda mais matadores.


Galdino Pataxó chega para refrear um pouco a loucura toda instalada até o momento. Uma canção acústica que obviamente fala sobre o incidente ocorrido no passado, onde o índio foi queimado, mostra que a banda não só arrisca trabalhar numa direção tribal, mas diferenciada, como consegue mostrar que a música é feita com competência e não só distorção. Aqui vemos o Tupi Nambha mostrar que acima de tudo fazem música, por isso seu som é tão bom. Esses caras não parecem energia e são só distorção: São reais, criativos, competentes, pesados e principalmente músicos que trabalham com suas almas!


Feiticeiro retorna ao peso, mas numa pegada mais épica, introduzindo com uma levada mais lenta, poderosa, tudo que um headbanger quer na vida! Peso, cadência, competência! Somos levados então a balançar nossas cabeças numa canção cavalgada, massuda, metal da melhor espécie! Mais uma vez somos remetidos aos momentos mais pesados de grandes bandas como Megadeth em seus tempos áureos… Dá para sentir que a qualquer momento o feiticeiro vai aparecer com seu cachimbo e seus preparados místicos de plantas para nos levar numa viagem de cura sem precedentes. Essa é feita para ouvir bem alto e em grupo. Porrada na orelha!

Ayahuasca fecha o CD (infelizmente), com uma pegada ainda mais tribal, marcada pela bateria e pelos riffs quebrados que nos mostram que o feiticeiro chegou e que agora estamos tomando seu chá e nos libertando… No refrão a música ganha ainda mais poder, parece que a riffmania nunca vai acabar. Pesado. Tribal. Sobrenatural. Os caras conseguem levar o ouvinte a outro mundo sem precisar de fato tomar Ayahuasca. Uma canção que levanta defunto.


Infelizmente, quando a coisa toda acaba, a gente fica querendo mais. Essas sete músicas diretas e muito bem estruturadas mostram que a banda pode ter muito mais a oferecer e com certeza vão ficar cravadas na história dos caras, assim como Kill ‘em All ficou na história do Metallica, ou Show No Mercy na do Slayer e até mesmo Schizophrenia na do Sepultura. Este singelo, porém poderoso início do Tupi Nambha já chegou para se tornar um clássico na história do Thrash Metal Nacional e porque não dizer do Metal Nacional, não é?


Os caras esbanjam qualidade, criatividade e sentimento em seu trabalho, e apesar de não ter um solo sequer de guitarra, a gente nem sente falta disso. Pois a proposta da banda fala mais alto em seu som, fazendo a música ser entendida pelo que ela é, sem precisar exatamente que se saiba o conteúdo das letras.


A aposta no Tupi Antigo, na valorização da nossa língua da terra, é uma grande sacada que os torna únicos no que fazem, apesar de outras bandas já terem feito algo semelhante. Não importa: O trabalho do Tupi Nambha é único, criativo e de qualidade inquestionável.

Em poucas palavras, como dizíamos nos anos oitenta, MUITO MASSA!



Marcos Falcão

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