Lançamento do Cd do Stratus Luna Centro Cultural de São Paulo – 07 de março de 2019
- Roadrock Blog
- 14 de abr. de 2019
- 6 min de leitura
(originalmente publicada em 28 de março de 2019)
Novamente no Centro Cultural, os “meninos prodígios” do Stratus Luna se apresentaram, lançando oficialmente seu primeiro trabalho auto intitulado em CD e formatos digitais, seguindo os anseios desses novos tempos. O CD, já ultrapassado na opinião de alguns, vem na contra mão, destinado a uma gama de pessoas que gosta de colecionar, conferir a arte do trabalho e analisar tudo de uma forma um pouco mais completa e com calma. Exatamente onde eu me incluo, sem desmerecer os novos e práticos formatos.
E nada deixa a desejar. O disquinho vem em digipack e nos traz uma arte fotográfica simples, porém refinada, com bolas de vidro e minerais, numa representação singela de um sistema planetário, relacionado à forma de um olho, insinuando a viagem que espera o ouvinte, pois é exatamente disso que se trata.
No encarte uma única foto em preto e branco, de autoria do grande Marcos Vinícius Troyan Streithorst. Tudo sem exagero, no limite do bom gosto e com a sensibilidade certa para um primeiro lançamento cheio de estilo e beleza.


O line up conta com Gabriel Golfetti no baixo, Giovanni Lenti na bateria, Gustavo Santhiago nos teclados e Ricardo Santhiago na guitarra. Trata se de uma banda quase de família, pois o guitarrista é irmão do tecladista e os dois são primos do baterista. Apenas o baixista não possui parentesco com eles, mas bem que poderia ser, a combinação é impressionante.
O que se tem é um trabalho maduro e muito bem elaborado, com uma sonoridade que nos remete o tempo inteiro a coisas clássicas do estilo, dando a entender que foram elaboradas por mentes mais experientes, dado principalmente à complexidade das composições. Mas não se assuste, o Stratus Luna não nos traz nada que nossos corações progressivos vão precisar ser especialistas em música para entender. Muito pelo contrário. O trabalho totalmente instrumental é de fácil compreensão aos fãs do estilo, sem grandes necessidades de tempo ou suítes excessivamente virtuosas, até porque os meninos não estão interessados em nos provar que sabem tocar, eles simplesmente gostam do que fazem e tocam aquilo que aprenderam e que vem de seus corações. Simples assim. Deve ser por isso também, salvo o grande talento e inspiração, que a coisa funciona.

O trampo abre com uma sonoridade espacial e até certo ponto épica, com arranjos de teclados que já conquistam o ouvinte nos primeiros segundos. Nimue nos proporciona a introdução correta a uma viagem indescritível e vai ganhando forma nos dando a entender que estamos diante de algo divino. A combinação da guitarra de Ricardo com a flauta de Gustavo nos leva a uma direção mágica, onde a imaginação não tem mais limites.
O Centro do Labirinto a seguir já nos introduz logo de cara a uma aventura a lá Dungeons &Dragons. No decorrer alucinado da canção dá para realmente se sentir parte de uma odisseia sensacional em busca de algo muito valoroso. A guitarra wah wah dá o tom de desafio a uma canção que já começa vitoriosa e cai nas graças do ouvinte muito depressa. O baixo do Gabriel aqui e em todo o play, é algo essencialmente preciso e muito bem tocado. Na mesma trilha seguem os teclados a lá Genesis do Gustavo. Vale destacar que esse carinha aí já lançou um disco solo em 2015, que inclusive tem a participação de alguns de seus companheiros do Stratus, onde desfila sua criatividade e nos remete a grandes nomes como Rick Wakeman e, claro, consequentemente, Yes. Aqui ele se sente à vontade para expor todas as suas influências, aliás como todos os componentes da banda.
Zarabatana nos conduz a um contexto tenso, logo de cara nos fazendo perceber que a aventura não acabou, mas que a qualquer momento vamos topar com nativos e suas armas rústicas, prontas a disparar agulhas mortais. Atente para o grande trabalho do Giovanni na bateria em contra partida com os pianos mágicos do Gustavo. O cara arrasa e deixa de lado toda sua timidez (pessoalmente ele não fala muito), extravasando sua linguagem nos componentes de seu instrumento. Nesse ponto ele nos lembra o grande Niel Peart do Rush.
Tem um momento nessa canção que tudo se torna místico e lisérgico, nos remetendo a civilizações antigas e com toques orientais sensacionais. Uma canção extremamente artesanal, para não dizer arqueológica.
Pandas Voadores é um sopro de alívio, um momento de descanso na viagem toda, sem deixar de ser parte dela. Nos lembra canções mais simples de fases pós Peter Gabriel do Genesis, mas sem se deixar levar totalmente pelo simples demais, apelando para coisas mais fortes, sem se aprofundar muito. Chega a nos dar uma ideia também dos bons tempos do Supertramp, insinua um certo clima de jazz, onde os meninos se sentem totalmente à vontade.
NREM – 1 é a mensagem que demonstra de forma muito breve que a viagem vai continuar por ambientes sensoriais e rítmicos, nos prepara para as suítes a seguir que vão garantir que você coloque o CD novamente quando ele acabar. Quase uma canção que poderia muito bem ser concebida pelo mágico Kitaro (tecladista e maestro japonês muito conhecido por seus grandes trabalhos com New Age), com pouco mais de dois minutos que nos levam até a Lua, desfilando arranjos e sonoridades quase que fora deste mundo.
Onírica começa singela, com a guitarra soando tranquila, bem arranjada e cheia de sensibilidade e vai ganhando forma, te tirando do chão com a massa sonora Stratus Lunaentrando passo a passo, sem pressa. Arranjos de flauta e uma bateria bem marcada completam o contexto que só quem realmente entende de Rock Progressivo vai conseguir captar o clima. Que fique claro inclusive, que se trata de música de muito bom gosto, mas evidentemente destinada aos fãs do estilo, velhos e novos.
E o play fecha com a sonoridade inicialmente tranquila e setentista de Efêmera, nos conduzindo à suítes maravilhosas, onde toda a criatividade dos músicos apenas reafirma tudo que foi feito até aqui, como um agradecimento ao ouvinte que se ateve a curtir essa obra de sensibilidade desde o início. A canção nos trás uma paz cuidadosa que faz juz ao título. De repente entrando num clima de pura introspecção, com efeitos sonoros e sonoridades absolutamente brilhantes, toda aquela magia do progressivo setentista, onde bandas como Camel, Grobschnitt, Jane, entre muitas outras nos traziam verdadeiras imagens musicais de lugares paradisíacos, fora deste mundo e muito além.

É isso que o Stratus Luna consegue com sua música espetacular! Eles nos tiram do chão e nos fazem viajar para contextos espetaculares e fora deste mundo…
E foi um trabalho desse nível, desta vez com um técnico de som mais adequado, que o grupo nos apresentou na íntegra nesta nova oportunidade. Um espetáculo impecável dentro das modestas condições do local, onde ficou provado que Progressivo não é um estilo onde apenas se destacam músicos velhos, mas também uma praia por onde podem transitar livremente novas gerações que até são capazes de ir mais longe que seus predecessores, pois é esse sentimento que o trabalho destes músicos nos demonstra claramente, em pleno século XXI!
Trata se de jovens que reconhecem a música como atemporal, garantindo muita qualidade e maestria no que se propõe a criar. Pessoas que realmente sabem os caminhos que desejam trilhar e o fazem bem.
E nesse espetáculo ainda pudemos conferir duas canções do Gustavo Santhiago, Animan Parte Um e Ilusões, que caíram como uma luva, completando ainda mais a jornada. Atente para os belos arranjos de piano de Ilusões e cuidado para não se emocionar.
O grupo também impressiona por sua receptividade e simpatia, recebendo bem todos que se aproximam, com muito bom humor inclusive. Os carinhas têm aquele algo mais que impressiona, aquela paixão que só quem ama música consegue expressar.
Mas a noite ainda teve uma bela surpresa, no bis ficaram à vontade para nos apresentar um cover. Desta vez foi Lazy do Deep Purple, numa versão instrumental correta e empolgante, mostrando que as influências deles não se restringem apenas aos grandes do Rock Progressivo. Vale lembrar que o grupo se tornou conhecido também por nos trazer versões muito competentes para clássicos do King Crimson e Camel, fortes influências em seu trabalho.
O Stratus Luna tem todo o apoio de suas famílias. Giuseppe Frippi, pai do Giovanni e tio do Gustavo e do Ricardo, é o cara por trás de tudo, incentivando e batalhando com os meninos para fazer acontecer. Também o Fábio Golfetti, vocalista do grande Violeta de Outono e pai do Gabriel, incentiva muito o trabalho do grupo.
Em suma, esses meninos ainda têm muito a nos oferecer, pois são muito capazes e bem acompanhados.
Abaixo você curte o show, basta clicar no link do nosso canal:
https://youtu.be/NWyeEJyU2Ig?list=PLAPnhSg9Qtjj1i0Sj6VAUbsUdxwoZh9tR
Ah e não se esqueça, o Stratus Luna está aberto para negócios!
Acesse a página deles, https://www.facebook.com/stratusluna/ e vamos fazer acontecer outros shows ainda mais incríveis quanto esse!
Marcos Falcão.
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