Domingo metálico à moda antiga com Neil Turbin e convidados no Jai Club!
- Roadrock Blog
- 27 de abr. de 2023
- 10 min de leitura
Atualizado: 2 de mai. de 2023
Neste dia 23 de abril o Jai Club na Vila Mariana, aqui em São Paulo teve uma atração muito especial: Neil Turbin, vocalista do primeiro disco do Anthrax, o clássico e amado pelos fãs, Fistful of Metal que este ano faz 41 anos na verdade, mas essa turnê começou antes disso, então eles estão ainda comemorando 40 anos.
E para acompanhar o show principal, se apresentaram cinco bandas de Thrash Metal e Metal Tradicional aqui da nossa terrinha, o Brasil. Foram cinco porradas nas orelhas! Um show “muito massa” como diríamos nos anos oitenta e uma verdadeira viagem no tempo.
O público presente, maioria acima dos quarenta anos, se acabou de tanto agitar. Eram autênticos fãs do Heavy Metal e alguns aprendizes que com certeza tem o Metal correndo nas veias. Aliás foi um grande encontro, pois as bandas tinham a mesma pegada e algumas já consagradas no cenário nacional há muitos anos, como os cariocas do Azul Limão, que mantém o fôlego vivo desde 1983!
O Som do Darma e a Caveira Velha Produções nos brindaram com essa aula de Heavy Metal atemporal que fez de um simples domingo uma verdadeira celebração de peso, velocidade e muita rebeldia e irreverência, além da realização do sonho de muitos de nós. Duvido muito que alguém um dia tenha pensado que veria o vocalista mais poderoso do Anthrax realizar um show aqui no Brasil. Ainda mais 41 anos depois...

A casa abriu cedo, as 16h e não demorou muito para os caras do Vingança Suprema derramarem sem dó seu Speed Metal na galera que estava chegando. Com Alason Rrroooaaarrr (vocal), Leandro Wild e Tom (guitarras), Rubão (Baixo) e Felipe War(bateria), a Vingança Suprema se fez presente, aquecendo o público como se já estivesse no palco há muito tempo. Peso, velocidade e vontade de trazer um Metal verdadeiro fizeram da breve apresentação dos caras a melhor porta de entrada para a explosão de Thrash Metal que viria a seguir.
O Warsickness chegou quebrando tudo. Enganou se quem pensou que esses caras só vinham cumprir horário. Formado por Diogo Moreschi(vocal), Carlos Ferreira e T.J. (guitarras), Pinguin(baixo) e Guilherme (bateria), o Warsickness esbanjou peso, velocidade e energia. Agitando a galera o tempo inteiro, os caras deixaram claro sua paixão por cerveja. Cheguei a me lembrar do Tankard, apesar do som não ter nada a ver, mas foi por causa da “Ode à Cerveja”. “Thrashera” oitentista da melhor qualidade que a turma aprovou e agitou muito!
Houve um momento em que o vocalista estava oferendo Sick Existence, o ótimo CD da banda em troca da bebida sagrada... Eu consegui conversar um minuto com ele depois do show, tiramos umas fotos e ele foi muito simpático e realmente adorou tocar por aqui. Ganhei um CD, mas não foi em troca de cerveja...

Depois veio o Selvageria, com as letras em português, o que com certeza contribui em muito para o amor que os fãs tem por eles. Rapidamente a frente do placo foi tomada por Headbangers que surgiram dos mais profundos confins do Jai Club...
Realmente, não sei de onde saiu tanta gente e como coube todo mundo ali, principalmente quando começaram as rodas, afinal o show do Selvageria era capaz de acordar os mortos.
Essa banda de Thrash Metal oitentista já tem um histórico de abrir para grandes artistas, como os alemães do Destruction, por exemplo e existem há muito tempo, angariando uma gama de fãs fiéis e muito empolgados. Danilo Toloza (vocal e bateria), César Capi(guitarra) e Tomás Toloza(baixo) podem tranquilamente ser chamados de “Trio do Inferno”, pois os caras esbanjam poder, domínio de público e competência, pra não mencionar o peso. As letras são instigantes, fortes e lembram muito o trabalho de uma outra banda, o Anthares, que seguia a mesma linha no passado, inclusive o baixista estava com a camiseta do álbum No Limite da Força, um clássico do Metal Nacional.
Momentos como Selvageria, Águias Assassinas e Hino do Mal fizeram o público pirar e cantar junto numa empolgação que até aquele momento ainda não tinha alcançado seu ápice. Um show espetacular, direto, pesado e nostálgico. Acreditem, a essa hora não sabíamos mais se estávamos no século XXI...

A viagem no tempo então ficou ainda mais evidente quando o Azul Limão subiu ao palco. O Thrash foi gentilmente substituído pelo Heavy Metal tradicional e em português também, desses ícones dos primórdios do movimento. Contando com Marcos Dantas(guitarra), Trevas(vocal), Vinícius Mathias(baixo) e André Delacroix(bateria) eles dominaram o pessoal desde os primeiros acordes de Pressão, passando por clássicos de todos os tempos, como Coração de Metal, Satã Clama Metal e até mesmo uma música de 1983, Não vou mais Falar, que a galera aplaudiu e cantou junto. Um show cheio de energia, peso e simpatia que garantiu ainda mais brilho a um evento que estava bombando desde o início.

E chegou a vez da banda mais pesada da noite. O Hammathaz de Sorocaba vinha com a proposta de um som que misturava muita coisa, mas que tendia brutalmente a um Death Metal a lá Benediction, Napalm Death e Morbid Angel...
E foi mais do que isso que Fernando Xavier(vocal), Thales Statkevicius e Rodrigo Marietto(guitarras), Anderson Andrade(baixo) e Lucas Santos(bateria)nos trouxeram. Uma banda forte, pesada, cheia de influências inclusive de sons mais modernos, como Machine Head e Slipknot. O Hammathaz trás uma produção e entrosamento que justificam os 15 anos de estrada. Indicados ao prêmio Dynamite de melhor álbum de Heavy Metal com CD The One de 2020, esses caras funcionam muito bem ao vivo. Sabem inclusive se virar com as adversidades. Nas últimas músicas a guitarra do Thales teve um probleminha e ele parou de tocar para arrumar. Muito calmamente, seguro do que tinha que fazer, o cara foi lá atrás, mexeu virou e logo estava de volta como se nada tivesse acontecido. E a banda segurou o show sem interrupção e sem perda, nem de peso, nem de qualidade, num profissionalismo sensacional. Houve um cover de Roots, Bloody, Roots do Sepultura que quebrou alguns pescoços e tirou o pó geral da plateia, principalmente quando o Fernando desceu do palco e foi cantar com povo. Grande sacada que fez valer a pena ainda mais estar ali conferindo o show dos caras!
E foi prometendo trazer o Inferno ao Jai Club que a banda terminou sua apresentação majestosamente com Bringing Hell, paulada do CD The One.
O Hammathaz encerrou com muito peso e personalidade a participação do Brasil neste incrível evento.

O momento que todos esperavam então finalmente chegou. Tivemos a honra de receber Neil Turbin (ex vocalista do Anthrax), que veio encerrar suas apresentações no Brasil Ele fez parte do primeiro disco, o qual é responsável por todas as composições, Fistful of Metal, lançado em 1982 e que este ano completa quarenta anos.
Seus dois shows anteriores aconteceram em 21 de abril no Espírito Santo no pub Correria Music em Vila Velha e em 22 de abril em Minas Gerais CDM Metal Fest no Campo do Meio. Sua banda de apoio é composta por Thales Stratkovicius (guitarrista do Hammathaz), Bill Martins (vocalista do Hellish War), Rafael Gonçalves (baterista do Brave) e Jaeder Menossi (guitarra), que ele fez questão de dizer que o apoia muito e que é seu preferido para todas as horas.
A banda, muito competente e compromissada, entregou ao público o que se esperava: muito peso, velocidade e entrosamento. Os caras seguraram muito bem os vocais potentes do Neil e as músicas, principalmente as do Anthrax, soaram como nunca antes, até mesmo porque, a maioria delas nunca foi executada ao vivo. Isso foi dito pelo vocalista diversas vezes, declaradamente em tons de crítica por a banda negligenciar a existência do Fistful of Metal ao longo desses quarenta anos.
E entre um som e outro, havia também momentos de sua carreira solo, que provaram ser uma continuidade dos materiais de sua antiga banda, porém um pouco mais pesados. Músicas muito boas, Heavy Metal de verdade como todos ali estavam esperando.
A voz do Neil Turbin parece não ter sofrido nada com a passagem do tempo, muito pelo contrário, está ainda melhor do que aquilo que ouvíamos no passado. O cover do Alice Cooper estava lá, I'm Eighteen, pesado como nunca vi.
E claro que dentre todas ele deixou para os momentos finais a clássica Metal Thrashing Mad, que todo mundo idolatra e inclusive está quase sempre nos shows do Anthrax.
O cara fez um apanhado legal de toda sua carreira, inclusive sem deixar para trás duas composições dele no segundo álbum do Anthrax, Spreading the Desease de 1985, Armed and Dangerous e Gung ho, executadas poderosamente para delírio dos fãs.
Muita presença de palco, muita conversa com o público, Niel apresentou todas as músicas e fez questão que as pessoas soubessem quais eram de sua carreira fora do Anthrax, se referindo ao Fistful of Metal como "Fistful Fourthy" diversas vezes, mostrando o orgulho que tem de ter composto o álbum.
Com um visual totalmente metal e em negro, ostentando um chapéu que lhe dava um ar de "cowboy from Helll", Neil Turbin esbanjou simpatia e convidou os fãs para tirarem fotos com ele e dar uma palavrinha ao final do espetáculo. Ele gosta bastante de falar e se mostra um cara que valoriza muito a união dos fãs do Metal em viver esse movimento.
Set do show:
Give em Hell
Death from Above
Crimson Warrior
I'm Eighteen
Across the River
Howling Fury
Anthrax
Riders of the Apocalipse
Armed and Dangerous
Hell Ride
Subjugator
Soldiers of Metal
Raise Hell
Fight till Death
Panic
Deathrider
Metal Thrashing Mad
Gung Ho
O show foi acima da média a julgar pelo tamanho e simplicidade do Jai Club. Os presentes voltaram às suas adolescências, visto que a faixa etária da maioria passava dos quarenta anos, o que deixava bem claro que não era somente o Fistful of Metal que tinha essa durabilidade...A velha guarda do movimento estava lá celebrando também suas vidas e o melhor do Metal!
A seguir você lê uma breve entrevista que fiz com ele no dia seguinte, quando rolou um Meet & Greet gratuito no Metal Bar em Pinheiros...
TEXTO: Marcos Falcão
FOTOS: Kátia Clarindo Falcão
Neil Turbin - Meet & Greet – Metal Bar – 24 de abril de 2023
Nesta noite de outono Neill Turbin esteve no Metal Bar e se propôs a me responder algumas perguntas, tirar umas fotos e dar uns autógrafos com muita boa vontade, atendendo a todos que se aproximavam, até dividindo cervejas com alguns de nós. Junto com os membros da banda Hammathaz, Neil esbanjou paciência, simpatia e carisma. Demonstrou também um grande respeito e amizade com os caras da banda, um deles tocou junto com ele nas apresentações no Brasil e foi muito competente. E entre brincadeiras e cervejas, Neil Turbin esbanjou bom humor e me acolheu de forma muito simples como você pode ler a seguir:
Marcos Falcão: Olá Neil Turbin, sou Marcos Falcão da Veros Music e do Roadrockblog, agradeço desde já a oportunidade de falar contigo. Para começar, como foram esses encontros com os fãs brasileiros?
Neil Turbin: Foram impressionantes. Foi algo acima das minhas expectativas, mas que eu suspeitava pois eu tenho a melhor das experiências com esses caras aqui do Hammathaz. Eles são espetaculares, é muito bom tocar com eles. Pessoas que eu realmente amo e que fazem seu trabalho de forma esplêndida. Juntos apenas tocamos Heavy Metal de verdade.
Marcos Falcão: Como você descreve seu som até aqui? Faz muito tempo que você saiu do Anthrax e sabemos que seus trabalhos não se restringem apenas a tocar o Fistful of Metal...
Neil Turbin: É bem diferente mesmo. Temos estilos opostos. Comigo você não vai ouvir Got the Time, ou Bring The Noise, talvez algo parecido com Madhouse, mas ainda assim, não como eles. Nem as músicas do Fistful of Metal, comigo elas soam mais rápidas e pesadas, é minha personalidade que está lá, são trabalhos que eu escrevi. Vocês nunca me verão de bermudas, chinelos e tal...
Até nisso somos diferentes. Eu gosto de skates, mas prefiro caminhões, com cavalos de potência, entende? Não tenho mais 16 anos pra andar de skates, meu negócio são carros velozes. Não sou um gato mansinho, mas sim um cachorro bravo! Tenho personalidade, sou eu mesmo, nada de personagens. Falo o que penso, toco o que gosto. Não copio ninguém. Nunca quis ser grande como o Iron Maiden por exemplo. Paul Di’anno fez um grande trabahlo com eles, Bruce Dickinson também, assim como Blaze Bayley, este que infelizmente teve problemas com seu coração, mas agora está em casa se tratando, graças a Deus. São todos pessoas incríveis, inclusive tive a oportunidade de cantar com Paul Di’anno, eu amo aquele cara! Ele passou por maus bocados durante anos e eu achei maravilhoso o apoio que o Iron Maiden deu a ele. É muito importante cuidar dos seus irmãos.
Marcos Falcão: Em relação a tudo isso você se coloca de uma forma muito amável. Sabemos que seu potencial vocal é muito grande, seus fãs adoram...
Neil Turbin: Cara, eu amo todos. Não vejo diferenças nas pessoas, sou super aberto. Recebo todos desse jeito. Não ligo para religião, etnia, orientação sexual. Temos que ser unidos acima das diferenças. Somos o povo e assim como nos unimos com nossas cervejas temos também que nos unir por nossa música, sem copiar ninguém. Nós mesmos, verdadeiros e fortes. Olhe o mundo à sua volta, poluição, guerras biológicas, injustiças. A música é uma forma de lutar contra tudo isso, pois ela é o amor. Hoje em dia se envenena até o clima, é preciso que nos posicionemos contra tudo isso.
Marcos Falcão: Os fãs realmente gostaram muito da música que você trouxe, não só as do Fistful of Metal, mas do restante de seu trabalho também. Podemos esperar o que de seu trabalho daqui para o futuro?
Neil Turbin: Verdade e sentimentos! Trabalho com amor. É terrível quando sofremos uma traição. E eu não tenho a intenção de trair meus fãs. Sei o que eles esperam e justamente é o mesmo que eu espero de mim mesmo. Trabalhamos todos com a verdade e isso não vai mudar. Somos fiéis uns aos outros então o que eles podem esperar é mais Heavy Metal, forte, rápido, verdadeiro!
Marcos Falcão: Para encerrar, quero saber se você volta ao Brasil.
Neil Turbin: Sim, voltarei em breve. Aqui é fantástico. Amei todo mundo! Gosto de estar cercado de pessoas que gostam de música de verdade. Gosto de animais e crianças, e gosto de boa cerveja! E aqui vocês têm tudo isso. Essa cerveja do Iron Maiden, desafio qualquer um a encontrar na América, aqui tem em vários lugares e ela é ótima!
Depois disso partimos para as fotos e autógrafos. E ele ainda ficou ali conversando e bebendo com os fãs até fechar o bar. Muito simpático, solícito, cheio de ideias e ideais, Neil Turbin não se cansou de nos mostrar sua preocupação com o mundo e com o rumo que as coisas estão tomando hoje em dia. Não um ativista político, mas sim um músico de personalidade e coração, antenado e consciente do mundo à sua volta. Seguro de seu trabalho e muito interessado no carinho dos fãs.


TEXTO: Marcos Falcão
FOTOS: Amanda Basso (Meet & Greet)
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