Jethro Tull 13 de abril Vibra São Paulo
- Roadrock Blog
- 16 de abr. de 2024
- 5 min de leitura

É muito difícil escrever sobre uma coisa que faz parte da nossa vida por tanto tempo. Ainda mais se isso existe por mais tempo ainda que nossa vida inteira. Quando conheci o Jethro Tull eu tinha 17 anos. Foi por causa da MTV que havia acabado de chegar no Brasil. Vi o clip de Too Old to Rock’n’Roll, Too Young to Die e viajei no visual maluco e na flauta de Ian Anderson. E olha que nem era tão legal assim como outras coisas deles, ainda mais antigas, que viria a conhecer depois, entre as buscas por discos no centro da cidade.
Não era nada fácil de encontrar qualquer coisa da discografia dos caras em 1991.
Mas tínhamos as rádios rock que tocavam diversos sons, os quais gravávamos em fitas cassete. Era uma maneira de conhecer. Na verdade, mesmo, muito pouca informação. Então o jeito era caçar discos na Galeria do Rock e nas suas imediações. Uma aventura que fez parte dos meus dias por muito tempo, me garantindo participar do mundo louco de Ian Anderson e seus comparsas.
Aqualung foi minha primeira conquista e depois vieram Living in the Past, algumas coletâneas e o magnífico Thick as as Brick, entre outros. Fiquei maravilhado com o trabalho dos caras. Songs from the Wood se tornou um dos meus preferidos e logo conheceria Benefit, talvez o mais “Hippie” dos discos deles. Eu estava lá quando eles ganharam o prêmio de melhor banda de Heavy Metal, desbancando o Metallica. Grande equívoco, pois se podia colocar qualquer rótulo neles, mesmo de Heavy Metal.
Mas o fato foi que com a chegada dos CDs, lá pro meio dos anos noventa, tudo se tornou acessível e finalmente pude completar minha coleção toda em CDs, inclusive com itens especiais, como a caixa de 25 anos que tenho até hoje. E o melhor de tudo foi poder conhecer os shows deles.
Em 1996 no extinto Olympia, na Lapa em São Paulo pude ver os caras pela primeira vez. Foi impressionante e inesquecível.
Na época eles haviam acabado de lançar o Roots to Branches, um excelente registro e o show foi espetacular. Mal sabia eu quantas vezes poderia contemplar o trabalho de Ian Anderson e de tantos outros músicos que faziam parte das diversas formações do Jethro Tull. E foram muitas vezes. Até mesmo Martin Barre, separado da banda, veio a São Paulo pouco antes da pandemia, num show espetacular também.
E desta vez, em 2024, novamente lá estava eu, aos 50 anos, curtindo o Jethro Tull com minha esposa Kátia no antigo Credicard Hall, hoje chamado de Vibra São Paulo, local onde já havia visto não só o Jethro, mas Ian Anderson, em carreira solo, (o que na verdade dá quase no mesmo), em outro momento.
Em 2022 o Jethro ressurgiu sem Martin Barre, com Ian Anderson anunciando aos quatro ventos que sem ele a banda jamais existiria, claramente alfinetando as turnês de seu antigo companheiro que traziam o material deles remodelado às versões sem as flautas, o que a meu ver nem ficou tão ruim, exceto pelo fato da gente ouvi-las nas canções, mesmo sem elas estarem lá...
Não se pode dizer que nosso Mestre escocês dos instrumentos de sopro não tenha razão, pois Jethro sem flauta não faz mesmo muito sentido.
E cercando se de músicos competentes, Joe Parrish nas guitarras, Scott Hammond na bateria e percussão, John O’Hara nos teclados e David Goodier no baixo; Ian Anderson fez o que muita gente diria ser impossível: trazer de volta o Jethro Tull sem Martin Barre nas guitarras.
A fórmula deu certo e rendeu dois frutos espetaculares, The Zealot Gene de 2022 e o mais recente Rock Flote do ano passado, com turnês arrasadoras que já haviam começado antes mesmo do lançamento de Zelot Gene. Nem a pausa da pandemia foi suficiente pra parar os caras.
De volta a todo vapor, Ian Anderson muito bem acompanhado nos trouxe um show excelente e cheio de surpresas. Claro que hoje, aos 76, por quase sete décadas de trabalho, sua voz já não é mais a mesma, assim com sua estética, mas mesmo assim o cara consegue envolver todos na magia de um trabalho espetacular que vem conquistando geração após geração, mesmo em seus momentos menos inspirados.
A flauta do Mestre e suas performances emblemáticas quase não sofreram alterações pelas ondas do tempo, satisfazendo as expectativas dos fãs de todas as idades.

E antes de começar o show, no saguão de entrada do Vibra São Paulo, a banda The Lords envolveu a todos em versões acústicas de sucessos dos anos 80 e 90. Músicos muito competentes e organizados, realmente uma atração de nível para entreter o público antes de um show de tão alto padrão de qualidade. Eu consegui uma foto com o vocalista Billy e a promessa de conferir um show dos caras assim que possível.
E chegou a hora tão esperada por todos. Abrindo com My Sunday Feeling e seguindo por uma versão maravilhosa de We Used to Know o show já começou encantando o público com o passado distante, lá do final dos anos sessenta, tudo margeado pela modernidade de efeitos visuais belíssimos dos painéis de alta resolução no palco, por onde imagens de um Anderson jovem e cheio de energia pipocavam entre outras dos antigos músicos e capas dos discos, tudo muito bem sincronizado e cheio de beleza.
O salto para 1978 veio de repente com cavalos de várias espécies anunciando Heavy Horses, inesperada por muitos, mas muito bem vinda, introduzindo outra surpresa do mesmo disco, Wheatercock, essa eu nunca tinha visto ao vivo, espetacular com suas flautas marcantes e harmoniosas e o apoio vocal do baixista, algo que se seguiu ao longo do show inteiro, completando as falhas da voz do Mestre, afinal o cara está fazendo milagres com essa idade toda.
Holy Herald, uma peça instrumental do Christmas Álbum (2003), introduziu a poderosa Roots to Branches seguida pela nova e obscura Wolf Unchained, do novo álbum, ambas numa produção de efeitos espetaculares.
E foi com uma música de 300 anos, (Boureé) numa versão muito fiel a original, (lançada nos anos sessenta) que o Jethro fechou a primeira parte do show, mostrando que a flauta de Ian Anderson é eterna e perfeita, não importa a sua idade.
Nada de fotos nem vídeos para a galera deste século. Altamente proibido, com seguranças feito cachorros no pé da plateia toda. Na segunda parte do show, Farm on the Freeway, deu o ar de sua graça, canção que sempre aparece nos shows dos caras, muito bem-vinda por sinal.
Algumas falhas nas telas aconteceram, houve luzes acesas pra consertar, mas a banda não parou por nem um minuto, mesmo quando o microfone da flauta do Mestre deu pau. O som continuou, a flauta voltou e tudo seguiu como se nada tivesse acontecido.
Surpresas foram canções do álbum Stormwatch (1979) que deram, o ar de sua graça, como a estranha e arrastada Dark Ages que eu nunca tinha visto ser executada ao vivo, um momento espetacular que o público aplaudiu extasiado.
Não posso deixar de mencionar a inusitada e brilhante versão de Aqualung, totalmente diferente, que mostrou ao público a habilidade fantástica dessa formação do Tull.
Aplausos de pé e lágrimas nos olhos dos mais sensíveis se fizeram presentes, só pra anunciar que o show chegava ao final.
Uma imagem liberando os celulares fez alegria de todos, que puderam fotografar e filmar Locomotive Breath, tradicionalmente encerrando o show, como feito em muitos e muitos anos.
Um espetáculo acima da média, muito bem executado, mostrando ao público que longe de ser o fim, o Jethro Tull ainda tem muita lenha pra queimar e eu não vou me surpreender se eles voltarem, mesmo que Ian Anderson não possa se mexer tanto quanto está acostumado. O que parece na verdade, é que o cara vai passar dos oitenta ainda gravando e fazendo turnês.
Sensacional!!!


Shows acontecem em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte em abril de 2024.
Confira o Trabalho do The Lords no Instagram em @bandathelords
O Jethro vc encontra em: https://jethrotull.com/
Pode também conferir o vídeo de Lcomotive Breath no Roadrock Project em:
Set da noite:
Parte 01:
My Sunday Feeling
We Used to Know
Heavy Horses
Wheatercock
Roots to Branches
Holy Herald
Wolf Unchained
Mine is the Mountain
Boureé
Parte 02:
Farm on the Freeway
The navigators
Warm Sporran
Mrs Tibbts
Dark Ages
Aqualung
Locomotive Breath
Marcos Falcão.
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