Iron Maiden – 33 anos do Live After Death!
- Roadrock Blog
- 14 de abr. de 2019
- 7 min de leitura
(originalmente publicada em 15 de outubro de 2018)

O verdadeiro legado da Besta!
Quando vi uma aluna minha do Ensino Médio, a Giovana Santos vestindo uma camiseta do Iron Maiden confesso que fiquei muito feliz, pois se trata de uma garota genial, inteligente e questionadora, que pensa e sabe se colocar em qualquer situação. Até ali eu não sabia sobre seus gostos musicais e adorei saber que temos essa paixão em comum. Por esse motivo, lhe ofereci um exemplar do DVD Live After Death, que considero a melhor forma de se conhecer o poder de fogo dos caras. Hoje em dia é muito legal observar o interesse das novas gerações por bandas antigas. Isso faz a coisa continuar através dos tempos.
Por causa disso e do fato de em outubro a obra completar 33 anos, resolvi falar um pouco desse show, que foi essencial para minha geração, sendo até hoje cultuado como um dos melhores momentos do Iron Maiden.
Antes de chamar atenção com o vídeo, Live After Death é o primeiro registro em álbum duplo, ao vivo, com Bruce Dickinson nos vocais. Antes disso, os fãs puderam ter uma palhinha com a faixa The Number of the Beast, presente no single Aces High, onde há covers de Jethro Tull e Nektar. Claro que de forma não oficial, através da pirataria sempre presente, muita gente conferiu o Maiden ao vivo antes de qualquer lançamento oficial, mas isso não vem ao caso.

Lançado em 14 de outubro de 1985, o registro da World Slavery Tour, representando o excelente Powerslave, possui gravações do Long Beach Arena, na Califórnia, entre 14 e 17 de março do mesmo ano e, em sua edição de vinil, também há um lado 4 com gravações do Hammersmith Odeon, em Londres, entre 8 e 12 de outubro de 1984. Esse disco foi lançado em CD nos anos 90, sem esses registros, apenas com o show de Long Beach, tal como o vídeo, sendo inclusive de uma outra noite, diferente dos registros no álbum, contando com Sanctuary no final. Mais tarde, já neste século, Live After Death foi lançado em CD duplo, exatamente como era no vinil, seguido por um DVD, que no Brasil saiu de forma não oficial, vendido em bancas de jornal, com baixa qualidade. Hoje esse DVD é raro.

O primeiro registro em VHS saiu em 23 de outubro de 1985. Foi um grande sucesso por todo o mundo, trazendo o Iron Maiden em sua melhor forma e produção, para mim o auge da banda. Hoje esse vídeo se apresenta em uma edição dupla em DVD, contendo o show inteiro em alta definição e com diversos extras, incluindo momentos no Rock in Rio em 1985. No entanto, nem mesmo nesta versão temos os registros do Hammersmith em 1984. O fato é que, até os dias de hoje, Live After Death aparece como um dos melhores shows do mundo, no que se refere ao Heavy Metal e ao Iron Maiden, que inclusive reproduziu esse espetáculo em sua Somewhere Back in Time Tour, onde a intenção foi reviver materiais antigos para as novas e velhas gerações, acrescentando mais músicas que fizeram a história da banda através dos anos. Essa celebração aconteceu em 2008 e 2009 e foi muito bem recebida pelos fãs em toda parte, principalmente no Brasil. Mas apesar de todos os recursos que se tem hoje, não superou a World Slavery Tour, apenas acrescentando pontos positivos na história da banda. Mesmo sendo maior e mais completa, é muito difícil uma releitura ser melhor que o momento original. Cada coisa é única e inesquecível.

A turnê do Powerslave teve 190 shows em pouco mais de 200 dias e alcançou o recorde de uma das maiores tours feita por uma banda de metal, algo extraordinário para os padrões da época. Live After Death foi produzido pelo hoje aposentado Martin Birch, melhor produtor que o Iron teve na minha opinião, com nomes como Rainbow, Deep Purple, Black Sabbath e Whitesnake em seu currículo.
A coisa toda chegou até mim em 1987, quando comprei o Somewhere in Time, numa liquidação em uma loja do extinto Shopping Center Sul, na região de Santo Amaro em São Paulo. Naquele momento jamais poderia imaginar que se iniciaria uma paixão que já dura 31 anos, com proporções e fases diferenciadas, mas que sempre resiste e perdura.
Fui levado a outros álbuns quase que imediatamente, os quais comprei em diversos lugares. Mas foi na mesma loja, desta vez fora de uma liquidação, que adquiri o Live After Death, álbum duplo e caro. Exatos 35.000 cruzados, quase uns 100 reais no dinheiro de hoje. Pode nem parece muito, pois hoje em dia os vinis são vendidos bem mais caros que isso, mas na época era acima da média para o preço um disco. Foi a primeira vez que ouvi o Iron ao vivo e confesso que fiquei um pouco confuso com esse conceito de show. Eu só tinha 13 anos e não entendi direito essa coisa de gravar o show e lançar em disco. Para mim já era suficiente ter as músicas no estúdio. Essa ingenuidade durou pouco, pois logo entendi como funcionava a coisa toda. Os shows de rock ficaram mais claros pra mim e, como todo mundo, passei a apreciar a iniciativa.

Fiquei maravilhado com o Live After Death. Passava horas ouvindo e vendo as fotos do show, imaginando como seria ver o vídeo, estar ali. Acredito que como eu, muita gente teve os mesmos sonhos. No auge de sua carreira, o Iron nos trouxe nesse registro uma coleção de joias que fez do Maiden uma das maiores bandas de Metal do mundo. Descobri pela antiga revista Som Três a existência desse vídeo, o qual só consegui uma cópia nos anos 90. Tive a oportunidade de comprar um uma vez, mas tive que escolher entre ter esse VHS e comprar um presente para minha mãe. Outra ingenuidade desnecessária. Mal sabia eu que outra oportunidade daquelas só surgiria muito depois.
Consegui ver o show na casa de um amigo em 1989 e fiquei maravilhado. Com apenas dois guitarristas o Iron conseguia construir um som pesado e de alta qualidade, com Bruce Dickinson soltando a voz. Um desfile de clássicos apresentando Powerslave, até hoje considerado a obra prima da banda. Eu tive meu primeiro vídeo do Live After Death original quando saiu a versão em DVD na banca de jornais. Depois, já neste século, comprei a edição dupla, excelente e completa, mas que também não veio com as canções do Hammersmith Odeon, ao invés disso veio com uma apresentação no Rock in Rio em 1985.
O Show…

A coisa toda começa com um discurso heroico do presidente Winston Churchill, convocando todos para a guerra. Isso já havia sido usado pelo Supertramp nos anos 70, mas aqui ganha outro fôlego, pois logo entra a bombástica Aces High, colocando o público no fogo cruzado dos caças em pleno ar. Peso, velocidade e energia, de uma forma que nunca mais veríamos, mesmo nas releituras recentes feitas pela banda. 2 Minutes to Midnight e The Trooper mantém a batalha no auge, trazendo o fogo cruzado para terra firme, com uma peculiar teatralidade que hoje mesmo acentuada, não produz o mesmo resultado, apesar de ser espetacular. Talvez o fato se explique porque na época tudo era novo e a paixão era maior, além do público ser muito mais ávido do que hoje, quando a informação é tão abundante que as pessoas até se perdem em seus gostos.
Revelations e Flight of Icarus trazem o ar histórico do Piece of Mind, soando ainda melhor que em sua turnê original, que é possível de ser vista no DVD The Early Years, coisa que nunca tivemos na época. É interessante notar a qualidade artesanal das imagens e tomadas, sem computadores, câmeras 4k e efeitos gráficos. Tudo foi feito na raça e funcionou muito bem, valorizando cada detalhe, dando ao Iron Maiden a proporção grandiosa que ele merecia.
E a prova de que a qualidade e a paixão se sobressai aos recursos fica ainda mais evidente com a longa Rime of the Ancient Mariner, executada na íntegra ainda mais pesada e energética do que no estúdio, conquistando uma galera que ainda não estava acostumada a uma canção tão longa. Bruce Dickinson em uma entrevista nos anos 90, disse que o público demorou a aceitar essa canção, pois não tinha paciência com algo tão longo, mas isso não fica evidente no vídeo.
Powerslave desperta a múmia egípcia e conquista a cena, principalmente com seu peso e seus belíssimos solos, nos transportando para dentro da pirâmide, numa verdadeira viagem no tempo. Puro deslumbramento. Portanto não estranhe se depois de tantos anos você ainda se encantar com esse show.
É um verdadeiro fenômeno que só fica melhor a cada momento. É como o vinho e o tempo. The Number of the Beast e Hallowed be thy Name (para mim a melhor versão), só fazem a coisa toda ficar ainda mais lendária e nos leva a um caminho sem volta, pois se o público ainda não se apaixonou, vai acontecer nesse momento.
Naqueles bons anos as execuções obrigatórias que a banda sempre faz em seus shows ainda eram uma novidade. Numa realidade muito antes de Fear of the Dark, Iron Maiden, Run to the Hills e Running Free eram o caminho ideal para finalizar um show dos caras. Detalhe que Iron Maiden eles ainda tocam em todos os espetáculos. Quase uma Paranoid da banda, talvez tão importante quanto. E de quebra, na versão do vídeo, eles ainda encerram com Sanctuary.

Um presente eterno para os fãs, Live After Death é um registro histórico, que na minha opinião ainda não foi superado, mesmo com tudo de bom que a banda fez depois (e olha que não foi pouca coisa). Ele se destaca e reserva seu espaço obrigatório, por ser um registro autêntico, onde a arte fala mais alto, com um set list perfeito, concentrando os tempos áureos, onde todos eram jovens e cheios de energia, com o Metal fervendo nas veias.
As incursões de um Eddie em forma de múmia, numa movimentação elétrica eram de encher os olhos, assim como a enorme figura no fundo do palco que jorrava faíscas pelos olhos, tudo analógico, artesanal e muito bem feito.
De maneira alguma eu posso falar contra tudo que veio depois, os altos e baixos, a troca e volta de vocalista. O que importa é que esse tempo foi único e especial e merece destaque não só no coração dos fãs, mas para todo mundo que ostenta a bandeira do Heavy Metal de qualidade.


Live After Death completa 33 anos agora no mês de outubro. E ainda é um dos maiores shows da história do Rock dos anos 80. Altamente recomendável, principalmente para aqueles que estão começando a curtir, pois precisamos manter a chama viva.
E para você, que como eu tenho uma história com a banda, sempre vai valer a pena ver de novo reviver os momentos que marcaram uma época. Vamos comemorar esse aniversário felizes por termos feito parte de algo histórico que ainda não acabou mesmo hoje sendo um pouco diferente.
E prepare-se para rever o Iron Maiden em outubro de 2019! Os caras estão vindo aí mais uma vez, cheios de energia e produção! Basta dar uma conferida nos vídeos da atual turnê Legacy of the Beast que estão bombando no YouTube. Nunca vai superar o passado, mas tenho que confessar que os caras estão tentando. Veja e tire suas próprias conclusões. Se esse show vier para o Brasil vai ser um grande momento!
Iron Maiden forever!
Up the Irons!!

Marcos Falcão.
Comments