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Rock Progressivo e as noites de São Paulo

  • Foto do escritor: Roadrock Blog
    Roadrock Blog
  • 7 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Um pouco da história do Rock Progressivo


Ocorre que no final dos anos sessenta surgiu um estilo que veio a ser rotulado como Rock Progressivo. Se eu falar sobre isso em detalhes, darei um ar enciclopédico ao texto, o que não é minha intenção. Daria muito pano pra manga traçar um paralelo explicando todas as origens, de onde veio, quem, para onde foi, o que formou e como ficou isso ou aquilo. Explicar todas as ramificações musicais e influências que deram origem ao estilo é quase como escrever um livro (ou vários) contando a própria história do Rock.


Quando questionado uma vez sobre sua opinião a respeito do rock nos anos setenta, especificamente o Black Sabbath; Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden (uma das maiores bandas de heavy metal do mundo, que hoje inclusive traz em som uma evidente influência de Rock Progressivo), afirmou que naquela época todas as bandas de rock eram classificadas como Rock Progressivo. Havia muita confusão entre os estilos naquela época. Então podemos supor que, ao menos na visão dos britânicos, o rótulo se aplicava a tudo que surgisse no meio e fosse sucesso entre os fãs.

No entanto, a coisa foi se definindo, e as águas dos rios seguiram por caminhos diferentes. Inúmeros detalhes, coincidências e fatos, tudo levou à definição do estilo Rock Progressivo. Coisas como ser um som à prova de estagnação: Algo que se ouve trinta anos depois sem soar datado, ser experimentalista, inovador na instrumentação sem aderir demais à psicodelia fariam com que o estilo se diferenciasse dos outros. O trabalho com sons estranhos e efeitos especiais era capaz de transportar o ouvinte para um mundo de sonhos extremamente significativos, algo que inclusive se traduziria nas letras da maioria das bandas. Sempre abordando temas clássicos, poéticos e de alto nível de crítica e inteligência, as letras casavam com o som de forma muitas vezes teatral, criando cenários verdadeiramente alucinantes. O Rock Progressivo, na maioria das vezes, era capaz de fazer a pessoa viajar mesmo sem drogas.

No estilo ficou evidente muita influência de jazz clássico. O tamanho das músicas, chegando a durar mais de 45 minutos (Solar Music, do alemão Grobschnitt, por exemplo); as batalhas sonoras entre guitarras e teclados, incursões de piano, música clássica, vocalizações diversas e tudo que pudesse dar sentido à viagem eram atributos obrigatórios.

Dessa forma, o cenário foi enriquecido com bandas como Pink Floyd, Genesis, Yes, Emerson Lake and Palmer, Renaissance, Gentle Giant, King Crimson, Kansas, Caravan, Camel e inúmeras outras em todos os lugares do mundo, quase que simultaneamente, sendo assunto polêmico definir qual banda iniciou essa jornada primeiro, apesar dos fortes indícios históricos indicarem a Inglaterra como precursora do estilo. Os alemães do Eloy e do Grobschnitt foram grandes expoentes do movimento, assim como o Premiata Forneria Marconi, da Itália, país que contribui até hoje com excelentes representantes do Rock Progressivo. Curioso que ao longo dos anos setenta, o Brasil também teve grandes ícones influenciados pelos europeus. O Terço era considerado o Yes brasileiro, assim como o Terreno Baldio era o Gentle Giant daqui. Também o Som Nosso de Cada Dia despontava como uma das mais incríveis viagens nacionais, lembrando em muitas passagens o Genesis inglês.

Então é mais “fácil” contar a história do Progressivo pelo trabalho das diversas bandas, muitas que continuam até hoje. Pesquisar pontualmente como foi tudo isso seria um trabalho digno de uma tese universitária, o que não é minha intenção neste texto.

Na década de oitenta, o estilo se modernizou e ganhou diversos rótulos e ramificações. Neo Progressivo e Rock de Vanguard podem ser citados como exemplos. Bandas como o Marillion, Pink Floyd e até mesmo o Genesis (acusados fortemente de se tornarem pops com a saída de Peter Gabriel e Steve Hackett) mantiveram o estilo vivo e influente, o que gerou novos artistas e ideias, fundindo o Progressivo com outras vertentes, como o Heavy Metal, criando o Metal Progressivo, algo que foi se desenvolvendo até despontar no final da década com bandas como Fates Warning e Dream Theater, entre outras. Boas promessas que se firmaram na década seguinte ao lado de bandas geniais como Pendragon, Arena, Spock’s Beard, Transatlanctic e muitas outras que misturavam tudo que podiam, soando tanto como progressivos puros como com pitadas de Metal.

O Tiamat, por exemplo, misturava tudo com Death Metal, fazendo parte de uma ramificação um tanto quanto estranha, porém não menos genial: O Death Metal Progressivo, do qual mais tarde teríamos o Opeth e o Anathema, este último altamente influenciado pelo Pink Floyd, assim como o RPWL e muitas outras bandas que não caberiam neste texto. Outro artista que merece destaque nos anos noventa é o sueco Bjorn Johansson, que junto com outros artistas brilhantes foi responsável por incríveis contribuições artísticas dentro do estilo. Hoje, no século XXI, temos bandas com mais de quarenta anos de estrada lado a lado com tudo que veio depois e se firmou. David Gilmour e Roger Waters mantém separadamente carreiras incríveis, tanto em seus trabalhos autorais, como nas turnês mundiais, onde as releituras dos materiais antigos do Pink Floyd são obrigatórias. Artistas como Steven Wilson, Riverside, entre outros, bebem nas fontes de tudo que foi feito até então, criando novas e impressionantes viagens musicais. Em todas as partes do mundo, o Rock Progressivo através de diversas bandas e misturas inteligentes com outros estilos, num ciclo infinito de capacidade criativa. Graças a internet, vivemos em um tempo onde a informação é potencialmente ilimitada. Isso também contribui para que o Rock Progressivo se torne cada vez mais atemporal e capaz de evoluir indefinidamente.

Nesse contexto atual, surgem as bandas tributo que se dedicam ao máximo para reproduzir o trabalho dos artistas antigos nos mínimos detalhes, beirando a perfeição, promovendo verdadeiras viagens no tempo. Nessa pegada, temos o Pink Floyd Australiano, The Genesis Musical Box, Mostly Autumn, que apesar de ser uma banda com identidade própria, chamou bastante atenção fazendo covers do Pink Floyd.

O Rock Progressivo e as noites de São Paulo

O fenômeno se espalhou por toda a parte, principalmente na Europa, mas o Brasil não ficou de fora desse movimento. Aqui, a coisa já vem acontecendo de forma significativa há mais de quinze anos, proliferando covers que vão da ousadia de se aproximar dos originais até quase alcançarem a própria perfeição.



Em São Paulo, as noites progressivas se tornam cada vez mais frequentes e diversificadas. A ocorrência de eventos desse nível fica cada vez mais marcante e histórica, ganhando proporções magníficas no movimento de Rock Progressivo, arrastando seguidores até mesmo estrangeiros. Bandas como o Genesis Live, Rick Wakeman Project, Yessongs, Rush Project, Stage Left, Marillion Tribute, Genesis Archives, Echoes, Atom, Ummagumma, Pink Floyd Dream, Brit Floyd, Supertramps, Giant Steps, Dream Theater Scenes from a Memory e muitas outras, algumas menores que vêm surgindo, compõem a rotina de alguns lugares em São Paulo. As viagens ficam garantidas no mais alto nível possível.

O Café Piu Piu, no bairro da Bela Vista, já mantém sua rotina de quintas progressivas desde os anos noventa. Agora vem abrindo espaço para grandes covers do Heavy Metal também, tais como o Electric Funeral (Black Sabbath Tribute) e o Children of the Beast (Iron Maiden Tribute). Também não podemos deixar de lado o incrível Purple Fiction (Deep Purple) e o Zoombeatles, que carregam em competência e paixão seu trabalho. O Teatro UMC também vem contribuindo com covers de alta qualidade, como o Rick Wakeman project, Yessongs, Queen Tribute entre outros que vem fazendo parte da sua programação impressionante, já há algum tempo.



A onda progressiva se espalha ainda por lugares como o Burbon Street, Gillan’s Inn, Café The Wall, Morrisson Rock Bar, Manifesto, Alcatraz e os Teatros Alfa e Bradesco, este último se tornando parada obrigatória de Ian Anderson e o Jethro Tull, que por lá já passaram três vezes seguidas, uma delas sendo neste último dia 10 de outubro. E ainda se encontra, na noite paulistana, atrações inusitadas como o Phil Collins Tribute no Teatro Gazeta e Fernanda Torres, banda extremamente competente e brilhante.

Encontramos até mesmo promessas de garagem, que fazem por merecer um espaço na noite em bares menores e mais afastados do movimento central, como é o caso do Janis Rock Bar na zona Sul, onde se apresentam covers competentes de Pink Floyd, Janis Joplin, Raul Seixas e Black Sabbath, entre outros.

Todo esse cenário foi se formando na noite da cidade, ao longo de muito tempo, graças a lugares lendários que hoje já não mais existem como o Black Jack e o Blackmore Rock Bar, o Mr. Blues no Itaim e o Woodstock 2000 na Consolação, entre outros.

Em pleno tempo dos smartphones, videogames de alta resolução, computadores que quase pensam por si mesmos e mídias de alta qualidade que ocupam os menores espaços, vemos através de tanto talento e dedicação, nossos antigos ídolos ganharem vida e a afirmação do Rock Progressivo como viagem definitiva para agora e além…

Vivemos um momento histórico, onde um verdadeiro movimento se formou e ganhou corpo na noite paulistana.

Para o alto e avante! Que venham mais e mais bandas!


Marcos Falcão


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