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Contraste Etna - 13 de julho de 2019 - Casa de Cultura M'Boi Mirim

  • Foto do escritor: Roadrock Blog
    Roadrock Blog
  • 15 de ago. de 2019
  • 5 min de leitura

Grandes e verdadeiros amigos são aqueles que principalmente guardamos por toda uma vida. Começo esta matéria pela grande amizade, quase que de infância, que conservo com o baterista Júnior Pereira, uma pessoa fora de série, quem me ensinou a entender a música muito além dos ouvidos. O conheci quando eu tinha 14 anos, em 1987, numa ocasião em que eu estava voltando de uma loja de discos local. Era o começo da minha jornada pelo mundo do Rock, então os experimentos eram inevitáveis. Naquela ocasião eu trazia embaixo do braço um disco do Ratos de Porão – Cada Dia Mais Sujo e Agressivo, que viria a ser meu primeiro contato com o Punk Rock.


Da esquerda para direita: Adilson Cegeh, Zé Carlos, Ronaldo Pepe e Júnior Pereira

E nesse dia resolvi cortar caminho pelo condomínio que ficava em frente ao meu. Havia uma abertura na cerca que separava os territórios, então era mais fácil chegar em casa por ali do que dando a volta pelas ruas ao lado. O que eu não sabia era que aquele conjunto habitacional era o quintal da casa do Júnior. Ele vivia ali. Não haveria nenhum problema, pois eu não o conhecia. Só de vista, uma figura cabeluda e trajada nos mais puros trajes Heavy Metal da época, algo assustador para os menos familiarizados com o movimento, como eu por exemplo, que só viria a entender tudo aquilo ainda uns meses depois.


O fato foi que acabei sendo abordado pelo Júnior quando ele viu o disco que eu carregava. Fiquei apavorado. Não tinha ideia do que ia acontecer. Ele me chamou e perguntou o que era aquele disco. Gelei. Pensei que ia tomar uma coça e ter meu disco furtado. Mas me aproximei, aceitei meu destino e disse a ele do que se tratava, já meio que sabendo que a casa havia caído para mim e não seria naquele momento que eu conheceria o som do Ratos de Porão...


Palco pronto para os shows


No entanto o que aconteceu foi justamente o contrário. O cara abriu um baita sorriso e começou a elogiar o disco, daí me convidou a sentar numa imensa pedra que figurava bem no meio do estacionamento do condomínio e começamos a conversar. Rapidamente percebi que apesar da aparência eu estava diante de uma das pessoas mais delicadas e amigáveis que existia por aquelas bandas. Nos tornamos amigos instantaneamente, apesar de ele ser três anos mais velho. Depois de quase uma hora de conversas voltei para casa intacto com meu disco e feliz por ter feito um amigo que tinha tanto em comum comigo. Gostávamos das mesmas coisas.


Dali em diante nossa amizade só cresceu e vivemos muitos momentos juntos, escutamos muito som, ele se mostrou um apaixonado por música como eu nunca tinha conhecido e com ele aprendi a entender a música de uma forma espetacular. Tudo começou a fazer outro sentido para mim e através de sua curiosidade conhecemos muitas bandas juntos e vivemos diversas experiências que sobreviveram a tudo e todos. Fomos de King Crimson a King Diamond, explorando estilos e tendências do Rock, sem radicalismo.


Da esquerda para direita: Zé Carlos, Júnior Pereira, Marcos Falcão, Marcelo Soares, Cláudio Gomes e Marcelo Ribeiro. Parte da turma reunida.

No show do Metallica em 1989 estivemos juntos no Ginásio do Ibirapuera, no que foi meu primeiro show internacional. Inesquecível é pouco para descrever a experiência. E não parou por aí. Adultos compartilhamos vivências e resolvemos problemas juntos, sempre muito bem acompanhados pelas melhores bandas do mundo. Ele aprendeu a tocar bateria e eu arranhei um pouco de guitarra por algum tempo, até que ele se foi para Monte Alto, uma distante cidade do interior de São Paulo com sua família, pessoas com quem também construí laços de muita amizade.


Essa mudança nos separou por 20 anos, tempo em que muita coisa aconteceu na vida de todos. E foi agora, bem no dia do Rock, que tivemos a oportunidade de nos reencontrar, graças a reunião de sua banda, o Contraste Etna, que juntou se novamente após 25 anos para participar do evento Pira Rock II, na Casa de Cultura M’Boi Mirim, minha antiga vizinhança, bem perto de onde morávamos nos anos 80, uma região que não visitava há muito tempo.


A história do Contraste Etna começou em 1989, por ali mesmo, na Zona Sul de São Paulo, com o intuito de fazer homenagem ao Legião Urbana. No início fizeram diversos shows pelos eventos dos bairros locais, igrejas e tal. Angariaram uma legião de fãs que garantiu o sucesso até meados dos anos 90, quando restou apenas o baixista Adilson Cegeh, que teve a difícil missão de recrutar novos músicos, juntando se ao vocalista Ronaldo Pepe, o guitarrista Zé Carlos e o baterista Júnior Pereira. Essa formação alçou voos mais ousados e tocaram inclusive fora de São Paulo, lançando um CD autoral com quatro músicas em 1996, material que inclusive teve uma boa aceitação nas rádios da época.


Contraste: Zé Carlos na guitarra

O Contraste Etna mudou de formação ainda algumas vezes até encerrar suas atividades no ano 2000, retornando em 2004 com algumas mudanças, fazendo diversas apresentações no interior de São Paulo e também nos litorais. Houve inclusive mais uma parada e outro retorno com alguns membros mais antigos.


Agora, 25 anos depois, o Contraste Etna se reuniu para participar desse evento em comemoração ao dia do Rock, voltando às suas raízes de uma forma muito emocionante. Eu tive a honra de acompanhar esse reencontro, inclusive participando dos ensaios em estúdio, dois dias antes do show.


No dia 13 de julho eles fecharam o evento na Casa de Cultura M’Boi Mirim e para mim foi uma grande emoção participar e principalmente reencontrar um monte de gente que eu não via desde a juventude, hoje já todo mundo velho e cheio de compromissos e gordurinhas a mais. Lá também estava o amigo Cláudio Gomes que está presente em muitos momentos desde os anos 80. Foi muito legal reunir parte da turma que tínhamos antigamente. Retornar à velha vizinhança que hoje está quase que irreconhecível foi um momento único que fez do dia do Rock algo muito especial para mim e para todos que lá estiveram.


Também reencontrar o Júnior foi algo fora do comum, quase nem sabíamos o que contar um ao outro depois de tantos anos, mas a amizade e a cumplicidade que tínhamos desde jovens continua a mesma. Trata se de um grande cara, ainda muito apaixonado pela música, apesar dos quilos a mais e da falta dos longos cabelos que metiam medo em muitos ingênuos que não poderiam sequer imaginar que por trás daquele visual estava uma das melhores pessoas que alguém poderia ter a honra de chamar de amigo...


O registro da noite mágica se encontra no link abaixo, o 10º Programa Roadrock On Stage, minha sincera homenagem a um grupo de pessoas muito especial que fez a alegria da galera, fechando o evento muito bem sucedido e organizado...

Espero que gostem.



Marcos Falcão.

 
 
 

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