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Giuseppe Lenti, um guitarrista que faz parte da História do Rock no Brasil

  • Foto do escritor: Roadrock Blog
    Roadrock Blog
  • 10 de abr. de 2019
  • 9 min de leitura

(originalmente publicada em 19 de junho de 2018)


Conheçam Giuseppe Lenti…


Conversei com o músico Giuseppe Lenti, mais conhecido como Giuseppe Frippi, compositor e guitarrista, inspiradíssimo. Empresário e produtor do grupo de Rock Progressivo Stratus Luna, que recentemente se apresentou no Totem Prog II, surgindo com uma revelação de talento e qualidade musical, apesar da pouca idade de seus membros. O Giuseppe, além de tudo, é também pai do baterista Giovanni Santhiago Lenti e tio de outros dois músicos da banda:

Gustavo Santhiago (teclados, sitar e flauta) e Ricardo Santhiago (guitarra).

Abaixo você lê sobre a vida desse fantástico músico, que já gravou um excelente CD, Desert Wind, onde esbanja sensibilidade e genialidade artística, nos brindando com um registro magnífico e viajante. Conheça Giuseppe Frippi


Marcos Falcão e Giuseppe Frippi

Fale nos sobre sua vida, influências e trajetórias…

Eu sou economista e músico. Nasci na Itália. Meu pai era um executivo de multinacional, fato que marcou minha infância porque ele acabou sendo transferido por vários países e a família foi acompanhando. Vivemos na Venezuela, Itália, Argentina até que finalmente ele foi transferido para o Brasil. Eu descobri a música com 11, 12 anos, quando morava na Argentina, onde havia uma cena muito legal de Rock.  Na época havia importantes expoentes musicais, sobretudo ótimos guitarristas como Pappo, Edelmiro Molinari, Claudio Gabis entre outros. Pappo, por exemplo, acabou sendo conhecido por aqui pela sua participação num grupo chamado Aeroblues, com Alejandro Medina (baixo) e o brasileiro Júnior Castello (bateria). Outro músico da época que eu acho genial foi Luís Alberto Spinetta (falecido em 2012) que não era propriamente um “virtuose” na guitarra, mas era um fantástico compositor e poeta.


Esses grupos eram essencialmente influenciados pelo Rock Progressivo?

Não, a maioria transitava entre o Rock, o blues e algumas “pitadas” de folk music (falo do inicio dos anos 70). Com o passar do tempo alguns começaram a elaborar mais os conceitos (aí surgiram grupos como Aquelarre, Pescado Rabioso, Invisible), outros se tornaram, digamos, mais radicais, fazendo um som mais pesado. Um exemplo disso foi La Pesada del Rock ‘N’ Roll, cujo cantor, Billy Bond, depois veio para o Brasil e foi vocalista do Joelho de Porco. As bandas de Rock Progressivo surgiram um pouco depois (de 74 em diante) e aí posso citar o Crucis, que inclusive veio tocar aqui no Brasil e o Seru Giran, que era uma espécie de “seleção” no tocante à popularidade dos músicos, com o icônico tecladista Charlie Garcia, o baixista virtuose Pedro Aznar, David Lebón na guitarra e Oscar Moro na bateria.


Aqui no Brasil a gente não tinha muito acesso a coisas assim, era bem difícil…

Quando cheguei ao Brasil, a primeira coisa que me impactou era a escassez de lojas de instrumentos musicais de boa qualidade (em Buenos Aires havia um forte mercado de instrumentos importados…). Já no começo fiquei bastante amigo de um cara que se chamava Eduardo Depose, um músico argentino tocava numa banda chamada Burmah (formada por três músicos argentinos e um brasileiro). Ele tocava guitarra como eu e acabou gerando muita afinidade. Lembro que os integrantes da banda iam e voltavam sempre para Argentina, então havia uma ligação entre as coisas de lá e aqui. Depois comecei a tocar num grupo que se chamava Quarteto Bizarro que, lamentavelmente, não deixou nenhum registro gravado, mas era muito ativo no circuito underground de rock/ fusion. A formação era clássica:  baixo, bateria, guitarra e teclado, inclusive nosso tecladista, Tuca Nemeth,  foi um dos primeiros a conseguir trazer  um minimoog para o Brasil, se não me falha a memória, na época era apenas ele e a Rita Lee que tinham um.


E como foi com essa banda?

Bem, o Quarteto Bizarro como comentei, não gravou nada, mas chegou a tocar no MASP, que foi o ápice da carreira da banda, isso em 1977. Depois o grupo se dissolveu, por n razões. Eu fiquei no circuito, mas eu naquela época me considerava um guitarrista de Fusion. O som do Quarteto Bizarro tinha esse viés, não acho que fosse progressivo. Hoje em dia há muita interação entre esses dois estilos.


Quarteto Bizarro

Sim, hoje o progressivo sofre influências de diversos estilos, o que na maioria das vezes enriquece muito o som.

Sim, claro. Mas, indo para frente, depois do Quarteto houve um hiato na minha vida. Eu tentei montar outros grupos, mas aí chegou a década de oitenta, quando mudou tudo. A estética era completamente diferente. Começou com o advento do movimento Punk, que foi uma espécie de Dadaísmo no plano musical, um movimento de ruptura. A cena pós-Punk já me parecia mais palatável, mas tive que me adaptar… Temas curtos, poucos solos, sempre ter presente que “menos é mais”… baterias retas,  a menos que a praia fosse o reggae. Meu primeiro grupo nessa nova fase foi o CO2, que durou alguns meses, mas enquanto durou foi bastante ativo: tocou no CCSP, no SESC Pompéia, no Lira Paulistana… Meu grande parceiro nesse grupo foi o Skowa dos Santos, o mesmo que viria a formar depois o grupo Skowa e a Máfia (inclusive ele também montou um grupo de Salsa que se chamava Sossega Leão e, mais tarde fez parte do Trio Mocotó). O grupo existiu até eu ser convidado por Miguel Barella e o Thomas Pappon para participar dos Voluntários da Pátria, em sua segunda formação.


Voluntários da Pátria

E como foi essa coisa com o Voluntários da Pátria?

Acabamos lançando um disco pela Baratos Afins (o único da banda) com essa formação: Miguel Barella e eu nas guitarras, Nasi Valadão no vocal, Ricardo Gaspa no baixo, Thomas Pappon na bateria… A banda fez inúmeros shows no circuito paulista da época, até que saiu o Thomas (escolheu focar em sua participação no Fellini e no Smack) e Nasi e Gaspa escolheram também concentrar forças no trabalho que tinham com o Ira!, contratados a essa altura pela gravadora Warner. Ficamos Miguel Barella e eu e remontamos a banda com Akira S no baixo e Edson X na bateria, que já tinham um projeto juntos, e um vocalista chamado Paulo Horácio. Mantivemos o nome, continuamos com a base de repertório do disco e nos concentramos em compor um novo material para dar novo gás à banda. Com essa formação tocamos no Misto Quente, que era um programa da TV Globo, e vivíamos na ponte aérea, porque a banda tinha bastante cartaz no Rio, além de tocar no circuito paulista habitual (Latitude 2000, Lira Paulistana, Madame Satã, etc.).

O nosso grande desafio com essa formação era não ter um letrista dedicado, como era o Thomas Pappon na formação anterior E aí, nos rendemos: já que a banda era conhecida pelo trabalho de guitarras, acabamos formando com o Miguel, um projeto instrumental que chamamos de Alvos Móveis, isso já nos anos 90 para 2000. Gravamos como Alvos Móveis dois CDs e tínhamos iniciado um terceiro, que ficou no papel.   Antes de tocar nesse projeto, eu cheguei a participar de um grupo chamado Akira S e as Garotas que erraram (justamente comAkira S e Edson X, que tinham entrado nos Voluntários) que tinha um lado bastante experimental, o que acarretava em situações bastante tensas de vez em quando com o público desavisado, mas eu tenho lembranças muito divertidas da banda…


Já nos anos 2000 houve um hiato e, de fato só comecei a trabalhar no meu disco solo a partir de 2006. O disco saiu em 2010, em CD, com o nome de Desert Wind.


Muita coisa deve ter mudado em tanto tempo de estrada…

Sim, fiquei bastante decepcionado. Quando distribui meu disco entre os críticos conhecidos, pouca gente se dispôs a escrever sobre ele. Talvez por ser um trabalho de estúdio, sem uma banda para divulgá-lo ao vivo… Hoje o show é muito mais importante do que a gravação em si.  O disco, que antes era uma parte essencial do faturamento, passou a ser um mero cartão de visita, que só existe para divulgar um trabalho que tem que ser apresentado ao vivo para que a conta possa fechar. Diferente de algumas décadas atrás… Eu particularmente achei um trabalho razoavelmente bem feito. Óbvio que hoje tenho algumas ressalvas, penso que podia ter feito algumas coisas de outra maneira, afinal meu nível crítico é alto.  Um trabalho é sempre uma coisa fechada, uma vez que está lá, masterizou e encapou, está feito… E analisando posteriormente, vem um monte de repensamentos.

Outro ponto é que acho que este tipo de som instrumental, difícil de rotular, não tem hoje em dia muito espaço tanto junto à mídia quanto ao público.


Como foi a formação do grupo?

Eu escolhi os músicos a dedo, basicamente os “parceiros fixos” foram: João Parahyba na bateria/ percussão, um dos fundadores do Trio Mocotó, um músico fantástico, fora de série, e o Célio Barros no contrabaixo, baixo e upright bass… outro grande mestre…um virtuose em todos os instrumentos que toca.

Esta formação me permitiu misturar estilos como nenhuma outra. O João deu um sabor brasileiro inacreditável enquanto Célio aportava seu som elaborado, estilo ECM records (selo alemão que também amo de paixão)…

Há temas em que eu tento resgatar minhas origens mediterrâneas e o João mistura ritmos nordestinos… No meu entender, essa é a globalização em seu nível mais elevado…


Mas também a crítica no Brasil é uma coisa meio complicada. Saem discos de diversos estilos que são ótimos e ninguém dá umas palavras e de repente aparece uma coisa banal, comum e muitas vezes até mesmo ruim, e todo mundo fala, coloca lá em cima e tal…

Bom, eu fiz um trabalho que acredito ser razoável e tive repercussão muito limitada. Aceito… Não tenho nada contra as pessoas gostarem de coisas que eu não gosto, mas algumas considerações achei sem propósito… Teve um cara que escreveu algo assim: “É um disco solo, mas o trabalho não foi só dele.” Pô…não deixa de ser verdade, mas nessa ótica nem os discos do Miles eram! Mas tudo bem, eu compus , passei os temas para os meus parceiros e, obviamente, cada um, na sua genialidade, contribuiu. Como comentei no baixo quem toca é um senhor chamado Célio Barros, que ganhou o prêmio Visa de melhor instrumentista. É um músico que no contra baixo tem uma afinação absurda, que eu nunca vi igual. Do João Parahyba já comentei alguma coisa, um músico super fera que além do trio Mocotó, já tocou com músicos icônicos como Ivan Lins, Jorge Benjor etc….


Frippi

Me conta de outras influências…

Além do King Crimson e outras bandas prog como a italiana Area, gosto muito do selo ECM, de grupos tipo Oregon, justamente por essa mistura: no caso, são músicos de Jazz tocando instrumentos basicamente acústicos junto com instrumentos étnicos como Sitar e Tabla. Gosto muito também do trabalho solo do Ralph Towner (pianista e violonista do Oregon).  Outro artista que gravou pela ECM Records, que admiro até hoje é o Bill Frisell. Ele é um músico cerebral que constrói harmonias num trabalho de detalhamento e leveza impressionante,  misturando estilos com maestria (country, ambient, jazz etc).  Um de meus discos preferidos dele é  In Line com o contrabaixista Arild Anderson.

Existem também outros inúmeros músicos de Jazz… mas aí a lista é longa…


E como foi esse negócio de dar uma parada?

Bom, foi meio que involuntariamente. Eu não pensei nesse negócio de dar uma parada. Mas inconscientemente comecei a fazer isso. Nunca parei de compor. Tenho outro disco pronto. Mas aí você olha e se questiona… investir dinheiro sem muita chance de retorno… enfim!

Abri um canal YouTube (Giuseppe Lenti) onde vou postando temas novos com vídeos elaborados pelo meu amigo Michele Vannucchi, um artista plástico italiano, que as vezes assina comigo a parte de composição, já que tem uma boa familiaridade com aplicativos como Ableton Live. Tenho feito algumas participações ao vivo, como na recente apresentação do grupo carioca AJJA Duo Project.


Mas será que o momento agora não seria mais propício para isso?

Não sei. O disco está lá, meu canal YouTube também, para quem quiser ver. Mas é uma questão de feeling momentâneo (nada me impede de voltar à ativa dentro de alguns meses)… E no momento prefiro me concentrar no Stratus Luna, já que eles estão numa fase importante da própria trajetória, que é a elaboração e lançamento do primeiro disco como parte da divulgação do trabalho. Aí acho que a minha experiência pode fazer a diferença. Tenho também que mencionar que o mais novo integrante do Stratus Luna é o Gabriel Golfetti, filho do Fabio Golfetti, icônico guitarrista do Violeta de Outono e da banda inglesa Gong, que é um amigo de muitos anos: ele tem me ajudado muito nesta tarefa…

Depois disso começamos a falar sobre o Stratus Luna, e deixamos a vida de Giuseppe Lenti um pouco de lado, apesar de voltarmos diversas vezes á situações e coisas que marcaram as aventuras desse grande músico, pois na verdade tudo acaba se interligando numa coisa só. Mas aqui você vai ter que se contentar e aguardar a segunda parte, onde vamos desvendar como foi essa coisa de Rock Progressivo que deu origem ao fantástico Stratus Luna, que surpreendeu a todos este ano no Festival Totem Prog II.

Até lá!!

                                                                                                                                        Marcos Falcão,

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